
Erosão costeira no Brasil: causas e consequências
Se você costuma visitar a região litorânea do Brasil, provavelmente já viu trechos de areia sumirem misteriosamente. Isso não é um exagero ou uma ilusão. Existem várias praias brasileiras que estão, literalmente, sendo engolidas pelo mar e, esse fenômeno é conhecido como erosão costeira. O que muitos não sabem é que esse processo não acontece somente de maneira natural, ele também é influenciado pela ação humana, cada vez mais intensa e predatória.

Hoje, não é raro ver estradas interrompidas, casas abandonadas e coqueiros tombados pela força do mar. Aos poucos, cenários que antes eram cartões-postais se transformam em paisagens de destruição silenciosa. Em muitos lugares, a faixa de areia diminui a cada ano, quase imperceptivelmente, até que, de repente, parece que o mar avançou de uma vez só, apagando limites que antes pareciam ser inabaláveis.

Não é só culpa da natureza: o ser humano acelera tudo
O mar nunca foi estático, ele sempre teve o papel de redesenhar as praias ao longo do tempo. No entanto, com o avanço cada vez maior da sociedade, essa dinâmica tem se desenvolvido de maneira acelerada, quase agressiva. As transformações que antes ocorriam lentamente, ao ritmo das marés e das estações do ano, hoje acontecem numa velocidade impossível de ignorar.
Então, ao observar as construções que avançam sobre a faixa de areia, a retirada das vegetações que mantém o solo firme e até intervenções que são aparentemente inofensivas, como rochas de contenção ou espigões, aceleram esse processo. Sendo assim, a partir do momento em que as barreiras e processos naturais sofrem interferências, o litoral perde a capacidade de se proteger e regenerar naturalmente. Por conta disso, mudanças que levariam séculos para completar seu ciclo natural, em poucos anos ou até meses já podem ser observadas.
Intervenções que pioram o que prometem resolver
Além disso, há um fator silencioso, mas decisivo, que alimenta esse avanço, o aquecimento global. O aumento da temperatura média do planeta eleva o nível dos oceanos e potencializa eventos extremos, como ressacas e tempestades costeiras. Esses fenômenos aceleram ainda mais a retirada de areia, o que proporciona o remodelamento mais ativo das linhas de costeiras.
Pouca gente percebe, mas muitas das obras que prometem proteger as cidades das erosões costeiras, como os famosos quebra-mares, em vez de conter essa degradação, acabam redirecionando a força das ondas para outros trechos da costa, tornando-os ainda mais vulneráveis. O que ocorre é um efeito dominó, silencioso e cumulativo, que vai redesenhando o litoral aos poucos, diante dos olhos de quem nem sempre entende o que está acontecendo.

Um exemplo claro desse fenômeno pode ser observado na cidade de Fortaleza, no Ceará. Nesse contexto, a instalação de um espigão, que foi feito com o intuito de proteger uma praia da erosão costeira, acabou redirecionando as ondas para as praias vizinhas. Como consequência, foi necessária a implantação de novos espigões nos pontos afetados. Assim, o ciclo se repete, ampliando os impactos e evidenciando como intervenções mal planejadas podem gerar problemas sucessivos.

O impacto vai muito além do turismo
Quando falamos em praias sumindo, muita gente pensa logo na queda do turismo. De fato, menos areia significa menos espaço para turistas e, consequentemente, prejuízos econômicos. No entanto, o impacto vai muito além disso. Comunidades inteiras perdem casas e, além disso, áreas agrícolas ficam com o solo empobrecido pela alta concentração de sal marinho. Ademais, em muitos casos, ecossistemas costeiros importantes, como manguezais e restingas, simplesmente desaparecem, levando junto com eles uma parte da biodiversidade local.
Além das perdas ambientais e econômicas, a erosão também compromete a segurança alimentar. Sem áreas costeiras protegidas, a pesca artesanal, que sustenta milhares de famílias, é diretamente afetada. A redução dos manguezais, além de prejudicar a reprodução de diversas espécies marinhas, diminui a proteção natural contra enchentes, ressacas do mar e até tsunamis, aumentando a vulnerabilidade das populações que vivem nessas regiões.

Dá para frear o avanço do mar?
Não existe uma solução mágica para conter a erosão costeira, mas há caminhos que podem reduzir significativamente seus impactos. A principal estratégia envolve a combinação entre a engenharia humana e os processos naturais, promovendo a restauração de ecossistemas costeiros, como dunas, manguezais e restingas, fundamentais para segurar a areia e amortecer o impacto das ondas. Além de reforçar a resistência natural do litoral, essa abordagem contribui para recuperar a biodiversidade e melhorar a qualidade dos habitats.
Outra prática já utilizada no Brasil é a chamada “engorda de praia”, que consiste em repor a areia levada pelo mar com sedimentos retirados do fundo oceânico. Esse tipo de intervenção é visível, por exemplo, na própria orla de Fortaleza, no Ceará, mais especificamente na Praia do Náutico. A técnica busca ampliar a faixa de areia, protegendo a infraestrutura urbana e mantendo a atratividade turística da região. Contudo, embora eficaz no curto prazo, trata-se de uma solução cara, periódica e que não resolve a raiz do problema.
A longo prazo, o caminho mais sustentável é o planejamento urbano consciente, que respeite os limites naturais da costa e priorize ações preventivas, ao invés de medidas corretivas. Nesse sentido, atitudes simples como preservar a faixa de areia, manter a vegetação nativa e controlar o descarte de resíduos já fazem grande diferença. A convivência equilibrada entre cidades e natureza é a única garantia de que as paisagens litorâneas continuarão existindo.
E para quem gosta de praia e do mar, o recado é um só, aproveite, mas também proteja. Afinal, a erosão costeira é um lembrete de que a natureza reage, principalmente quando ultrapassamos seus limites. E, no fim, quem mais perde com esse desequilíbrio somos nós mesmos.

